Uma crônica pode ser o retrato de um momento único, mágico, mas também pode ser a narração do cotidiano cru. Uma crônica pode ser um comentário crítico, esfuziante, carregado de metáforas e metonímias, um repositório de idéias, a defesa de uma tese, ou, simplesmente, a maneira infantil de enxergar-se a realidade. Uma crônica pode ser um microconto, uma história solta no ar, uma parábola, uma fábula, pode ter personagens imaginários dialogando absurdamente sobre o improvável, provando que nada é mais estranho que situações comuns. Uma crônica pode tratar de algo que nunca será, mas que seria bom se fosse. Uma crônica pode tratar de algo que é, mas que seria bom se nunca tivesse sido.
Uma crônica tem o cheiro da manhã e o sabor de ir à padaria, à banca de jornais, à feira, à praça; tem o prazer de tomar café recém-coado, de caminhar pelo calçadão da praia, de visitar livrarias e sebos, de dizer "eu te amo". Uma crônica tem o calor da tarde e é salgada como as águas do mar. Uma crônica tem o aroma da noite e o brilho suntuoso de estrelas. Uma crônica tem a ansiedade e surpresa do primeiro encontro, e o romantismo do tão aguardado jantar à luz de velas. Uma crônica tem o silêncio noturno, com o leve roçar do vento, e a agitação do dia seguinte. Uma crônica tem o início próprio de uma segunda-feira de trabalho, e a sensação preguiçosa de uma sexta-feira, depois do expediente. Uma crônica tem os passeios do sábado e do domingo, e as viagens de férias, inesquecíveis. Uma crônica tem a lembrança do primeiro filho, do choro à noite toda, das idas constantes ao pediatra, dos gastos exorbitantes com remédios; tem o orgulho das primeiras palavras, das primeiras engatinhadas, dos primeiros passos, sozinho. Uma crônica tem as lembranças dos churrascos e festas com familiares e amigos.
Uma crônica tem o gosto da vida.
(Elson Teixeira Cardoso)
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