(Para Claudia, mais que amada)
Estados Unidos, Nova Iorque, 8/3/1857. Durante manifestação numa fábrica de tecidos, 129 mulheres foram assassinadas numa operação escabrosa da polícia. As tecelãs reivindicavam redução na jornada de trabalho, de 14 para 10 horas diárias e o direito à licença maternidade. O massacre, um dos mais horrendos de meados do século XIX, causou comoção e indignação, gerando o Dia Internacional da Mulher, lembrado anualmente no dia 8 de março, há exatos 150 anos.
Brasil, Pará, 12/2/2005. Na cidade de Anapu, a missionária Dorothy Stang, da Congregação das Irmãs de Notre Dame de Namur, americana naturalizada brasileira há 30 anos, foi brutalmente assassinada com 6 tiros, numa emboscada. A Irmã Dorothy, como era conhecida, liderava causas ambientais, agrárias e de direitos humanos, destacando-se no trabalho com pequenos agricultores, sendo uma das responsáveis por Projetos de Desenvolvimentos Sustentáveis (PDS), com a concepção de assentamento de reforma agrária adequado ao ambiente amazônico. Seu trabalho incomodava grileiros e donos de madeireiras, e o crime lembrou o assassinato do seringueiro, líder sindical, político e ecologista, Chico Mendes, em 1988, em Xapuri, no Acre. Tal como este, a execução de Irmã Dorothy, há cerca de 2 anos, chocou o país, repercutindo internacionalmente. Tanto que entidades e movimentos sociais instituíram o dia 12 de fevereiro como o dia de luta em defesa da Amazônia e contra a impunidade.
O que há de igual entre as 129 tecelãs e Irmã Dorothy? Além de serem mártires, a vocação de lutar sem acovardar-se, o que, via de regra, é comum nas mulheres. As 129 tecelãs, mais que operárias foram guerreiras; mais que manifestantes, foram porta-vozes de reivindicações que ecoam no tempo; mais que exemplos, representam a importância da mulher nos contextos histórico, social e cultural. A consciência social de Irmã Dorothy permitiu que realizasse uma entrega incondicional a várias causas, anulando-se em favor do próximo, saindo da mera teoria eclesiástica e passando à prática social. Não deixou filhos, porém, deixou inúmeros órfãos de sua liderança, de sua fé, de sua disposição em viver e realizar.
Evidentemente que as mulheres ainda não são tratadas como deveriam, com respeito e igualdade, mas, ao longo das décadas, inúmeras conquistas foram alcançadas em diversas áreas. Ainda há países em que são relegadas a segundo plano, impedidas de estudar, trabalhar e sair de casa, humilhadas pela condição de serem mulheres. Porém, há países em que ocupam posições de destaque, inclusive na política. Angela Merkel é primeira-ministra da Alemanha; Khaleda Zia, de Bangladesh. Michele Bachelet é presidente do Chile; Ellen Johnson-Sirleaf, da Libéria. Hillary Clinton, poderá ser eleita presidente dos Estados Unidos; Ségolène Royal, da França; e Rigoberta Menchú Tum (prêmio Nobel da Paz, em 1992), da Guatemala. Todas têm chances de vencer em seus países, derrotando políticos proeminentes.
No Brasil, a participação feminina na política ainda é tímida, resumindo-se a mulheres que destacam-se em seus Estados. Aliás, dos 26 Estados da federação e Distrito Federal, somente 3 são governados por mulheres: Pará, Ana Júlia Carepa; Rio Grande do Norte, Vilma Faria (reeleita); e Rio Grande do Sul, Yeda Crusius. O caminho será longo até uma mulher chegar à Presidência da República, mas será inevitável, um processo natural, uma tendência a ser seguida. Nas demais áreas, houve avanços nas políticas públicas, mas é preciso vencer preconceitos, ultrapassar barreiras. Como tantos outros, o trabalho de Irmã Dorothy ficou como exemplo de que o gênero feminino não impossibilita a prática de liderança, nem impede que ações sejam capitaneadas com sucesso; antes, permite que tudo seja realizado com sucesso, já que, no mundo, a mulher vem demonstrando ser mais competente que o homem. Afinal, é uma fonte geradora de força. O dom de gerar filhos simboliza isto.
Viva as 129 tecelãs! Viva Irmã Dorothy! Viva as mulheres!
(Arte: Foto de Irmã Dorothy, extraída do site do Greenpeace)
(Elson Teixeira Cardoso)
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