quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

"ESQUERDA, DIREITA, VOLVER..."

Na França, no dia 14 de julho de 1789 (século XVIII), o levante que agrupou intelectuais, burgueses, artesãos, operários, camponeses e trabalhadores em geral, em torno de um mesmo ideal, sob o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, tomou e derrubou a Bastilha, símbolo do absolutismo monárquico, dando início à Revolução Francesa, cujo êxito inspiraria aspirantes a revolucionários de diversos países, incluindo o Brasil, então colônia de Portugal, situação desonrosa para os inconfidentes mineiros, que, na cidade de Vila Rica, atual Ouro Preto, engendravam uma revolução, objetivando a expulsão da nação usurpadora das riquezas naturais. Infelizmente, não prosperaram, mas a Inconfidência Mineira permaneceu como o primeiro movimento da História do Brasil, em que escritores, militares e membros das diversas camadas sociais, engajaram-se em torno de um mesmo ideal.
Os integrantes da Revolução Francesa, ao chegarem ao poder, sacudiram o verniz romântico da coesão ideológica, que permitia que expoentes de pensamentos diametralmente opostos, lutassem nas mesmas fileiras, e seguiram por vias contrárias. A partir de correntes existentes, formaram-se partidos com ideologias próprias, que viriam a disputar espaço no poder conquistado. Os mais fortes eram os Jacobinos e os Girondinos, partidos que defendiam a Repúbica, porém, representavam a dualidade ideológica do poder instalado na França.
O Partido dos Jacobinos era composto pelos sans-cullottes (intelectuais, artesãos, operários, camponeses e trabalhadores em geral), que defendiam uma ideologia voltada aos problemas sociais, o que também serviu de base, décadas depois, às idéias dos filósofos Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), idealizadores do Comunismo. Os principais líderes, os filósofos Robespierre e Danton, e membros, reuniam-se no Convento de Saint Jacques. Daí serem chamados de Jacobinos. Por sua vez, o Partido dos Girondinos era composto pelos burgueses e políticos, que defendiam uma ideologia voltada a interesses comerciais diversos, puramente burgueses, entrando em choque com a ideologia dos Jacobinos. Os principais líderes, deputados Brissot e Roland, e membros, reuniam-se no Departamento (Estado) de Gironda, no interior da França. Daí serem chamados de Girondinos.
A História da Revolução Francesa registra que, há cerca de 217 anos, na primeira reunião após a tomada do poder, numa ampla sala, os representantes dos Jacobinos, sem motivo aparente, sentaram-se à esquerda, enquanto os representantes dos Girondinos sentaram-se à direita. Isto cunhou a expressão esquerda e direita, em Política. Os Jacobinos, com idéias radicais, na opinião dos Girondinos, governaram a França e implantaram mudanças sociais importantíssimas, porém, menos de vinte anos depois, as divergências internas, com a formação de novas correntes, contribuíram para que Napoleão Bonaparte e seu ego imperial, suplantassem o poder. Atualmente, a expressão esquerda e direita não pode ser entendida como síntese de ideologias dualistas, opostas quanto ao foco de ação, pois há diversas correntes de cada uma, enquanto sobressai-se a chamada Terceira Via, idealizada na Europa, e que estabelece uma espécie de ponte entre a esquerda e a direita. É o volver entre ambas, a volta brusca. Será uma opção ao esvaziamento ideológico da esquerda e da direita? Será a partidarização da dúvida, da falta de posições concretas? Somente o futuro responderá.
(Elson Teixeira Cardoso)

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