sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

LOURENÇO FILHO, MANDELA E JC: RECORDAÇÕES!

Acho que sou um dos poucos ex-alunos da EEPG Professor Lourenço Filho (na década de 90, foi desativada), que localizava-se num prédio apertado, entre as ruas 1º de Agosto e Virgílio Malta, no Centro de Bauru. Até hoje, não sei como cabiam tantos alunos. No intervalo (à época, já não era mais “recreio”), o pátio era disputado centímetro a centímetro. Pode parecer absurdo, mas havia uma bibliotecária que, seguindo ordens da direção, ou sua própria vontade, não permitia que livros de Jorge Amado fossem retirados pelos alunos. Os livros eram censurados descaradamente, servindo tão-somente como decoração nas parcas prateleiras empoeiradas.
Em 1987, quando estava na 8ª série do colegial (atual 8º ano do ensino fundamental), toda sexta-feira era preciso levar uma notícia publicada na semana, para divulgação e reflexão, na disciplina de Organização Social e Política do Brasil (OSPB). Não havia mais ditadura, o país era governado por um civil a dois anos, mas a OSPB resistia às mudanças sociais e políticas; era uma reformulação da antiga Educação Moral e Cívica, implantada durante o regime ditatorial, uma verdadeira “lavagem cerebral”, com propaganda dos governos militares, e a “versão oficial” da História do Brasil. Porém, mesmo tendo resquícios ditatoriais, gostava de OSPB, pois, dependendo do professor, havia um estudo mais “aprofundado” da situação política do país. Sempre realizava a tarefa semanal, com prazer. Bastava ler o título de uma notícia qualquer e resumi-la à classe, e a professora complementava com comentários, instigando os alunos a debaterem – coisa rara nos dias atuais.
A mais brilhante notícia que levei, foi sobre Nelson Mandela, líder da oposição ao regime apartheid, que segregava sanguinariamente brancos e negros, na África do Sul. Condenado à prisão perpétua em 1964, fazia 23 anos que estava preso, com trabalhos forçados numa pedreira, e, cada vez mais, tornava-se um símbolo de resistência e luta em favor da igualdade racial, crescendo a pressão internacional sobre o presidente sul-africano, Frederick De Klerk, pela sua libertação. (Três anos depois, em 1990, Nelson Mandela foi posto em liberdade, após ter ficado cerca de 27 anos na prisão. Em 1993, recebeu, merecidamente, o prêmio Nobel da Paz, e, em 1994, nas primeiras eleições democráticas da África do Sul, foi eleito presidente.) A notícia era de uma edição do Jornal da Cidade (JC). À época, Bauru também contava com dois jornais – JC e Diário de Bauru, já extinto –, mas, como acontece hoje, o JC, devido à tradição e credibilidade, é que fazia a diferença, era o mais completo, o mais crítico, o mais lido, o mais apreciado.
Fundado em agosto de 1967, o JC possui quase 40 anos de testemunho ocular de fatos ocorridos na cidade, no Brasil e no mundo. Devido à sua importância, incluindo a realização de ações em benefício da cidade e região, o JC configura-se num jornal cidadão. A coluna “Tribuna do Leitor”, por si só, é um exemplo de cidadania. Talvez o JC seja o único jornal do país que disponibiliza uma coluna e uma página inteira, três vezes na semana, e uma coluna nos demais dias, para textos de leitores. São publicados textos extensos, crônicas, sobre assuntos relativos à cidade, ou assuntos gerais. A coluna consiste num fórum democrático, onde há a possibilidade de expor idéias e debater assuntos, exercitando a arte de escrever. É uma tribuna livre.
Recordar significa fazer voltar ao coração. Hoje, faço voltar ao coração a escola que não mais existe, o líder que tornou-se mito e o jornal que acompanha Bauru há quase quatro décadas, que, num dia qualquer, teve uma significação especial para mim. É bom ter recordações!
(Elson Teixeira Cardoso)

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