Ela estava feliz, sentia-se leve, pluma levada pelo vento. Mas uma ponta de saudade da menina que, agora, existia nas lembranças, fez com que prostrasse o rosto entre as pernas e soluçasse. Julgava ter perdido algo. Sentiu-se culpada. Mas isso durou apenas alguns minutos. Teve certeza que não perdera, mas ganhara, era uma vencedora. Interrompeu seus pensamentos quando ele aproximou-se e perguntou se estava bem. Disse que sim e derramou-se num abraço recíproco. Foi o recomeço da ópera de corpos entrelaçados, entregues ao amor.
sábado, 9 de junho de 2007
PRIMEIRA VEZ (MINICONTO)
AUTOR E OBRA
"Quando eu comecei a juntar algumas idéias para escrever os contos, eu não imaginava muito bem o que escrever. Depois, imaginei que em um prédio decadente, numa rua movimentada do centro de São Paulo, daquelas com banca de jornal, padaria, prostitutas à noite, camelôs, etc, pudesse ser a inspiração que eu precisava. Então, imaginei que se subisse por esse prédio, cada janela de cada apartamento diferente teria algo a me dizer. Fiz questão de buscar pessoas que a maioria pudesse chamar de decadentes, pois era exatamente ali que queria descobrir as coisas. Outro dia vi num filme, acho que foi num filme, que um cara falou que estava à procura de conhecimento, e não da verdade. Eu não tinha entendido direito o que ele estava dizendo. Mas percebi que a proposta do "Janelas para Babilônia" era exatamente isto. Buscar uma versão das coisas, das pessoas, das suas histórias. Nao me importa, aqui, a verdade, me importa apenas conhecer, aprender, descobrir."
Pois bem, passemos à leitura do conto "Luzes da Ribalta".
(Elson Teixeira Cardoso)
LUZES DA RIBALTA
(Arte: "Nu Sentado", de Pablo Picasso)
(Alberto Granato, escritor, albertogranato@fgreinamentos.com.br)CADA COISA NO SEU NÃO-LUGAR
terça-feira, 5 de junho de 2007
MOSAICO (MINICONTO)
Dançou tanto que seu corpo desprendeu-se milimetricamente, formando uma roda de pequenas partes, mosaico vivo. Seus cabelos confundiram-se com a noite; seus olhos, com as estrelas. Mas não podia permanecer desconexa, longe dela mesma; ela, que tanto buscava entender suas atitudes. Recompôs-se, fragmento por fragmento, recuperando a forma. Entretanto, estava diferente, colorida. O vestido quadriculado apenas protegia seu corpo do vento sereno, porque, transparente, denunciava a mulher que despontara de uma criança.
Dançou novamente, circundada por cores bailantes, mosaicos flutuantes. Enquanto erguia a cabeça, as mãos acompanhavam o gesto, imberbes, à espera do derramamento de prazer, que, antes, sentira, o ritual de passagem que a transformou numa mulher, a chuva fina, mosaico líquido, que a deixou inebriada, mosaico formado.
(Arte: Mosaico de Yone Lins, extraído do site br.geocities.com/yonelinsmosaicos)
(Elson Teixeira Cardoso)