segunda-feira, 25 de junho de 2007

P A L E T A D E P A L A V R A S

DEPRESSÃO PÓS-CONTRATO

Casamento, pra que te quero. Um embrulho de presente. Meia dúzia de flores. Convidados, pastéis, convites. Respondez s`il vous plait. Cestos, ornamentos, estrelas e fru-frus. Um embrulho a segurar pelo resto da vida. Um negócio que não dá pra usar e jogar fora (complicado...). Raro e temerário.

Tanta ansiedade e plim! Bateram-se as taças, acabou o champanhe. Olha, tá na hora de limpar a sala, a tenda, a festa, opa!, cacos de vidro, farelos de bolo, nhac. De encarar - enquanto é tempo - isso não vai durar. Vai murcha-ar...

Casamento, casamento, casamento. Ele perdura lá, pendurado na parede, perguntando quando vai virar dois belos documentos de óbito. Hehe. Sede, tédio e inveja. Por ali esquecidos os momentos de sonhos, saudaaades... Só vontade de apagar. A vela. O brinde. A promessa. Um nó, uma aliança sem tamanho ajustado. Bamba no dedo, sobra daqui, falta de lá. Peça que não cai direito, cai na primeira esquina, vai esquecida, roubada...
Mas que às vezes funciona... mistério! O capturado vira mestre e as alianças, algemas de espuma, que ninguém consegue separar. O preso sente o prazer de se deixar cair. O torpor de se deixar levar, livre, sem contornos nem destinos. Num piscar de olhos, a coragem de não ser, em prol de viver a derrota magnânima - enlouquecendo além do ópio, sendo puxado pelos cabelos, arrastando-se pela sedução, até os horripilantes primórdios do delírio...
(Arte: Victor Vasarely)
(Diana Menasché, escritora, http://www.dianamenasche.blogspot.com/)

2 comentários:

SV disse...

Entre o ideal antigo e a realidade presente; entre o romantismo sonhado e o realismo vivido; entre a paixão que une, o amor que unifica ou a desilusão que acorrenta. Todos os casamentos são diferentes nos olhos de quem vê de dentro.

ELSON TEIXEIRA CARDOSO disse...

Os textos de Diana são intensamente saborosos. Este, é uma lâmina lírica.

Elson