sábado, 9 de junho de 2007

PRIMEIRA VEZ (MINICONTO)

Esperara por aquele momento, não poderia desistir, não queria adiar mais. No quarto, as paredes pulsavam, nervosas, ansiosas, banhando os dois corpos despojados de timidez. Trocaram carícias ingênuas, afagos tórridos e permitiram que os corpos fossem embalados por um beijo reconfortante.
Ela suspirou naquele instante mágico; seus poros dilataram e flores cresceram, tulipas. Ela não era mais ela. Ela era outra, a menina dera lugar à mulher. Chorou, comovida, trêmula de êxtase. Fora sua primeira vez.
Sobre a cama, os corpos desejosos de prazer arderam em brasa, um refugiou-se no outro, um exauriu as forças do outro. Sob a luz opaca do quarto, as almas dissolveram-se e repousaram na ardência do amor consumado.

Ela estava feliz, sentia-se leve, pluma levada pelo vento. Mas uma ponta de saudade da menina que, agora, existia nas lembranças, fez com que prostrasse o rosto entre as pernas e soluçasse. Julgava ter perdido algo. Sentiu-se culpada. Mas isso durou apenas alguns minutos. Teve certeza que não perdera, mas ganhara, era uma vencedora. Interrompeu seus pensamentos quando ele aproximou-se e perguntou se estava bem. Disse que sim e derramou-se num abraço recíproco. Foi o recomeço da ópera de corpos entrelaçados, entregues ao amor.

(Arte: "Nu de Dos", de Pablo Picasso)
(Elson Teixeira Cardoso)

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