domingo, 22 de julho de 2007
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sábado, 21 de julho de 2007
A MORTE DO CARLISMO

A morte do senador Antônio Carlos Magalhães (DEM), que sofreu uma parada cardíaca no dia 20 de julho de 2007, aos 79 anos, é a recente demonstração disso. ACM, como era chamado, constituía-se num empreendimento humano, um patrimônio vivo, tal o poder e influência que exercia na política brasileira. Pois ACM iniciou-se na carreira política na época de estudante, tendo sido presidente do Grêmio do Ginásio da Bahia, e do Diretório Central de Estudantes, da Faculdade de Medicina, onde formou-se.
A derrota do candidato de ACM ao governo da Bahia, em 1986, foi interpretada como a morte anunciada do carlismo, entretanto, em 1990, ACM foi eleito governador no primeiro turno, assumindo no ano seguinte e licenciando-se três anos depois, para concorrer ao Senado, que presidiu entre 1997 e 2001, numa clara demonstração de que o carlismo fortalecera-se ainda mais. Mas, em 1998, seu filho e herdeiro político, deputado federal Luís Eduardo Magalhães, ex-presidente da Câmara dos Deputados, sofreu um ataque cardíaco e faleceu aos 43 anos. Esta, sim, foi a morte anunciada do carlismo, já que ACM pretendia ver o filho no governo da Bahia e, depois, na Presidência da República.
(Fotografia: Senador Antônio Carlos Magalhães)
(Elson Teixeira Cardoso)
O ATRASO DE UMA HOMENAGEM ANTECIPADA

Três anos depois, “Pérola” foi novamente encenada em Bauru, no mesmo local, quase simultaneamente a “O Crime do Doutor Alvarenga”, uma “adaptação” ou “recriação” de uma peça escrita por seu pai, Oswaldo Rasi (à época, vivo), que teve a interpretação do incomparável Paulo Autran. É desnecessário dizer que assisti a ambas.
Mas por que recordo-me disso somente agora? Será que deveria ter recordado em 2006, quando completaram-se dez anos da primeira apresentação em Bauru, da peça “Pérola”? Será que deveria ter recordado no dia 27 de fevereiro de 2007, quando teria completado cinqüenta e oito anos? Ou será que deveria ter recordado no dia 22 de abril de 2007, quando completaram-se quatro anos que um câncer no pulmão levou-o à morte?
Recordo-me agora e transgrido a ordem natural de esperar pelo momento certo, aquele que vem acompanhado da data solene, sem o qual parece não haver sentido na homenagem. (O homem fica à espera de ocasiões especiais, quando tem o poder de criá-las.) Recordo-me agora, num dia aleatório, sem música de fundo executada por uma orquestra de câmara, sem chuva de papéis picados, sem pompa, apesar de não deixar de ser um dia festivo.
Recordo-me que Mauro Rasi, o principal teatrólogo bauruense – e um dos principais do Brasil -, cuja obra deveria integrar o projeto pedagógico-cultural das escolas da cidade, passou a infância e parte da juventude num sobrado estreito, com uma piscina no quintal exíguo, na rua Bandeirantes, no Centro, imóvel imortalizado na peça “Pérola”. Na década de 60, teve que sair de Bauru para ter seu talento reconhecido – à época, a miopia cultural já prevalecia – e lutou para consolidar sua carreira, sendo um dos criadores do “gênero besteirol” (comédias hilárias). Ao longo de sua carreira, recebeu inúmeros prêmios importantes, porém, nunca deixou de referir-se à cidade que tanto estimava, principalmente na peça “Pérola”, assistida por mais de 300.000 pessoas, no Brasil e Europa.
Recordo-me que Mauro Rasi, que possuía sensibilidade artística para captar a ironia e humor presentes no cotidiano, foi objeto de teses acadêmicas e escreveu, além de peças, textos para programas da Rede Globo de Televisão e crônicas para jornais de grande circulação. Utilizava uma linguagem direta, bem elaborada e sem pedantismo; confundia aqueles que, à primeira vista, consideravam sua peças superficiais, pois, com a simplicidade e prazer de quem vai à padaria, à feira ou à banca de jornais numa manhã de domingo, tratava de temas complexos, indagações seculares do homem, em obras que permitiam o prazer de refletir a partir de situações corriqueiras. Elementos autobiográficos eram constantes, serviam como críticas a si mesmo, porém, certas situações pareciam ser o reflexo do cotidiano de qualquer família.
Recordo-me que Mauro Rasi está sepultado longe de sua cidade-natal, no Cemitério dos Ingleses, no Rio de Janeiro, cidade que soube valorizar seu talento. Sua obra consiste num legado dramatúrgico e, conhecer esse legado – em qualquer momento, em qualquer data, em qualquer ocasião –, é a melhor homenagem que pode ser realizada ao saudoso autor, que completaria sessenta anos em 2009.
(Nota: Crônica publicada no Jornal da Cidade - de Bauru -, em 19/07/2007.)
(Elson Teixeira Cardoso)
quinta-feira, 19 de julho de 2007
A MORTE CALA FUNDO NO CORAÇÃO

(Arte: "Guernica", de Pablo Picasso)
(Elson Teixeira Cardoso)
segunda-feira, 9 de julho de 2007
O PERIGO DAS ESCOVAS DE CABELOS

terça-feira, 3 de julho de 2007
P A L E T A D E P A L A V R A S
segunda-feira, 25 de junho de 2007
P A L E T A D E P A L A V R A S

Casamento, pra que te quero. Um embrulho de presente. Meia dúzia de flores. Convidados, pastéis, convites. Respondez s`il vous plait. Cestos, ornamentos, estrelas e fru-frus. Um embrulho a segurar pelo resto da vida. Um negócio que não dá pra usar e jogar fora (complicado...). Raro e temerário.
Tanta ansiedade e plim! Bateram-se as taças, acabou o champanhe. Olha, tá na hora de limpar a sala, a tenda, a festa, opa!, cacos de vidro, farelos de bolo, nhac. De encarar - enquanto é tempo - isso não vai durar. Vai murcha-ar...
domingo, 24 de junho de 2007
"ULISSES": A JORNADA ÉPICA DE UM DIA
RESUMO SOBRE O ROMANCE "ULISSES", DE JAMES JOYCE

(No poema grego, Ulisses, casado com Penélope, deixa-a e o filho, Telêmaco, lançando-se numa jornada durante dezoito anos. Somente ao retornar é que Penélope deixará de fiar, desfiar e refiar, bordar, desbordar e rebordar sua teia, sem ceder aos apelos dos inúmeros pretendentes à sua mão, depois derrotados por Ulisses e seu filho.)
Leopold Bloom é judeu e trabalha como agenciador de anúncios para jornal, é livre pensador de cultura mediana, mas de infinita admiração pelo que supõe ser cultura, é infeliz no casamento e tem uma filha, Milly (já desperta ao sexo). É discriminado por sua delicadeza e urbanidade de trato, por sua ascendência — ora é irlandês, ora judeu, ora estrangeiro, ora cidadão do mundo, suspeito e segregado. A tristeza recorrente em sua vida, e na da esposa, é o filho varão natimorto, personagem que como rima reaparece na mente de ambos, ausência presente que impediu a felicidade do casal.
No decorrer do dia, Stephen Dedalus e dois colegas, albergados nas ruínas de uma torre à beira-mar, debatem temas essencialmente teológicos e teleológicos. Depois, Stephen dá uma aula de história a garotos e recebe um salário. Caminha por uma praia, ruminando os pensamentos e ''lendo'' a marca de cifras, símbolos e signos nas coisas e seres. Entra em cena Bloom, matinal, ''conversando'' com a gata, preparando o desjejum da esposa, antegostando o seu. Sai e perambula por Dublin, a cidade personagem. Chega à casa de um amigo morto, cujo enterro acompanhará. Na redação do jornal, assiste a parte de um diálogo brandido por uns intelectuais presentes, Stephen, inclusive, mas não se conheciam. Vai, a seguir, almoçar, e peregrina em busca de local adequado. Depois, ruma para uma consulta à biblioteca central, e continua suas andanças pelas ruas, temeroso de voltar cedo para casa. Detém-se num bar e ouve músicas e árias que o inebriam. Passa por uma taverna, visita um hospital, participa de uma comemoração improvisada entre médicos, estudantes e visitantes, inclusive, Stephen, impressionando-se pelo verbo deste, vendo-o endinheirado e quase bêbado, o que o preocupa. Iniciam um relacionamento interafetivo, em que todas as falhas de cada um, se juntam no convívio de algumas horas do dia, até que o novo amigo chega a dividir o leito interconjugal do casal. Ao final, Molly, antes de redormir, recapitula o dia e parte de sua vida, num fluxo psíquico, entre lúcida e ilúcida, num derramamento monologal que constitui o clímax do romance.
A PRIMEIRA IMPRESSÃO É FUGAZ

Senti vontade de ir embora, mas todos estavam animados em permanecer, carentes de natureza, não sabiam distinguir um ambiente saudável, rejuvenescedor, de um desértico. Não tinham experiência, acostumados com a poluição da cidade. Uma moita de fuligem tomava a forma de uma vegetação anã, bonsai cuidado com a meticulosidade de samurais da jardinagem. Queria sair correndo, ir em busca da tranqüïlidade da agitação da rodovia, onde carros voavam frenéticos, entre buzinas e faróis altos, como se guiassem navios que corriam o risco de naufragar no oceano de asfalto. Ao longe, luzes amareladas da cidade. O tempo passava e queriam continuar naquelas ruínas, explorando cada canto do que outrora fora um jardim oriental, estádio do sossego.
Contrariado, tentei imaginar que não estava ali, tentei dormir, mas a insônia me açoitou. Tivera uma péssima impressão, não conseguiria enxergar nada de inovador, nada que remetesse ao passado glorioso do recanto. O que deveria ser prazer, era agonia. Antes tivesse ficado em casa; agora, não estaria me afogando no tédio, não estaria prestes a desmaiar. Fomos a um bar, a única opção, e, como temia, nos sentamos, seguindo um ritual que indicava que ficaríamos horas estáticos, apreciando o que mostrava-se desagradável, enchendo os poros de angústia.
Minha esposa e meu filho afetivo resolveram cantar. Num piscar de olhos, estavam com microfones, cantando no videokê, enquanto um japonês com o pé quebrado manuseava o equipamento. Fiquei surpreso. Instantaneamente, a cortina espessa do bar, cortiça que impedia de enxergar a diversão, foi rasgada, e o som da música inundou o espaço, transbordou em meus ouvidos, foi ouvido nas matas, morros, chácaras, sítios, fazendas, cidades. Um som preciso que segurou a terra, penetrou-a, fez amor com ela, fecundou-a e proporcionou que as raízes de dezenas, centenas, milhares de arbustos, plantas e árvores irrompessem e substituíssem a vegetação calva, desmotivada. Pessoas cantavam em coro, dançavam, giravam como girassóis, aquecendo o local. Havia felicidade.
Como pude me esquecer da vocação de minha esposa? A música a acompanhava, era seu deleite. Sua voz quebrou o encanto dos escombros e o recanto fez jus ao nome. Pessoas chegavam de vários lugares, vinham sem saber como, içadas pela voz sublime, canto de Sereia, e resplandeciam com o barulho da satisfação.
Poucos sabem, mas basta conversar, ouvir a voz de outra pessoa, mesmo desconhecida, para sentir-se bem. O barulho afugenta a tristeza, a preocupação. Por isso, há quem durma com a TV ligada, o som embala o sono, proporciona a sensação de não estar sozinho, o som acompanha, é amigo. Os personagens dos filmes passam a ser amigos: cawboys, policiais, cavaleiros da idade média, nativos, viajantes estelares, todos povoam a realidade da semiconsciência, até que o sono dá seu beijo, e tudo passa a ser sonho. O sono é um ósculo profundo.
Caminhei alguns passos e espantei-me, porque lá fora tudo estava cheio de vida. Não queria ir embora, mas sorver o embevecimento proporcionado. Tive certeza que a primeira impressão não é a que fica. A primeira impressão é fugaz, desfaz-se num estalar de dedos, desaparece como se nunca tivesse existido.
Somos apresentados a alguém e, ora sentimos simpatia, ora sentimos antipatia. Por quê? A primeira impressão, quase sempre enganosa, nos leva a crer que estamos certos. No auge da arrogância, julgamos o outro sem conhecê-lo, sem saber o que, de fato, pensa. A primeira impressão é um descuido; erramos, porque estamos armados, preparados para enxergar e sentir o que é conveniente ao momento. A primeira impressão é um tormento.
Dei uma gargalhada e não conseguia parar de rir. Minha esposa, que suara de tanto cantar, perguntou se estava bem. Disse que sim. Quis saber porque ria tanto. Respondi que tudo estava diferente, como se fosse uma peça, como se estivéssemos interagindo com o espetáculo. De que está falando? Só porque cantamos? Não mudou nada. Como, não? Veja, a vegetação, as luzes, até as libélulas voltaram. Ela sorriu com um sorriso que foi um libelo à minha atitude. Saímos, fomos embora, mas antes vi um açude na escuridão espirrar água.
Realmente, nada mudara, porque tudo já existia, eu é quem não percebera. Não é possível perceber as maravilhas quando se está na margem da contrariedade, com uma venda no coração.
A primeira impressão é fugaz. A segunda impressão é audaz.
RESUMO SOBRE O ROMANCE "OS IRMÃOS KARAMAZOV", DE DOSTOIÉVSKI

quarta-feira, 20 de junho de 2007
SENSAÇÕES
RESUMO SOBRE O ROMANCE "MEMÓRIA DE MINHAS PUTAS TRISTES", DE GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ

(Fotografia: O prêmio Nobel de Literatura, Gabriel García Márquez)
terça-feira, 19 de junho de 2007
P A L E T A D E P A L A V R A S

segunda-feira, 18 de junho de 2007
A CRÔNICA QUE NUNCA ESCREVI

(Arte: "The Dutch Settlers - Part I", de Jean-Michel Basquiat)
sábado, 16 de junho de 2007
A FEIÚRA É A BELEZA QUE SOFRE DE TIMIDEZ

Dizer que uma pessoa é feia é o mesmo que dizer que não existe, que é um rascunho descartado, um desenho borrado, uma pintura que não aconteceu. Dizer que uma pessoa é feia é o mesmo que dizer que é inválida, imprestável. Dizer que uma pessoa é feia é o mesmo que dizer que sucumbe como uma morta-viva, que degrada o meio ambiente, que é inconveniente. Dizer que uma pessoa é feia é demonstrar o quanto há de fel no coração, o quanto o coração está enegrecido de raiva, preconceito, frustração, o quanto o coração é pior que o pulmão de um fumante inveterado. Dizer que uma pessoa é feia é ser analfabeto visual, é não possuir uma gotícula de sensibilidade, é ser cego, é estar muito ocupado massageando o próprio ego, é andar de muletas achando que é um corredor profissional. Dizer que uma pessoa é feia é afirmar-se ignorante, é ser daltônico sentimental, é não olhar para o próprio desleixo, é não entender nada de beleza, é viver na completa incerteza, é não entender, é atestar a própria imcompetência para viver.
A feiúra não existe. A feiúra é a beleza que sofre de timidez. A feiúra é a beleza que não consegue ser ouvida, porque não ousa, permanece calada, buscando ser esquecida. A feiúra é a beleza com crise de identidade, com sentimento de inferioridade. A feiúra é o avesso da beleza, o reverso do brilho, da ostentação. A feiúra foi inventada para disfarçar a beleza, para que esta pudesse ter sossego, pudesse ir a vários lugares sem despertar a atenção. A feiúra é o sossego da beleza.
O problema é que a feiúra quis ser independente, ter vida própria, não viver à mercê da beleza, mas sair e encher os pulmões de liberdade. Mas arrependeu-se, porque foi rejeitada. O diferente é rejeitado por quem não o compreende, não o aceita. É a forma de anulá-lo, de extingui-lo. A feiúra é a beleza diferente, incompreendida. A feiúra é a beleza perseguida, presa, torturada, queimada numa fogueira, acusada de bruxaria. A feiúra é a beleza despreparada, inocente, virgem, pura.
A feiúra é a beleza que não se mostrou, preferiu permanecer intacta, longe dos carinhos grosseiros de bêbados, longe do apetite sensual de sóbrios. A feiúra é a beleza aquecida numa crisálida, é uma rosa cálida, faminta da seiva do amor. A feiúra é o teste supremo do amor. A feiúra é a beleza que escorregou numa poça. A feiúra é o teste supremo da beleza. A feiúra é o medo que a beleza tem de despertar de manhã e chocar os outros, não a si mesma. A feiúra é a jornada que a beleza realiza por um caminho árido, em busca do autoconhecimento. A feiúra é a válvula de escape para viver para si, não para os outros. A feiúra é uma máscara carnavalesca, refúgio em busca da alegria. A feiúra duela com a beleza, esquecendo-se que duela consigo mesma. A feiúra inexiste, não passa de um conceito inventado por quem não tinha imaginação. Ou tinha em demasia.
Como compreender o chamado padrão de beleza? A feiúra não existe, mas o padrão de beleza é horrendo. É artifical. Mulheres esqueléticas, caveiras com longos cabelos esfiapados, desfilam por passarelas, corredores injustos, ditando como todas as demais devem ser e se vestir. E todas as demais devem ser magérrimas, ossos envoltos em vestidos de cetim, com pele esticada de avelã, sem qualquer indício de rugas ou gorduras, com olhares esguios e sorrisos de maçãs murchas. A beleza artifical não se alimenta. O alimento é seu maior inimigo. A fome, sua maior companheira, sua maior confidente.
A mulher é bela em todas as ocasiões. Não importa se não tenha certos atributos físicos, somente o fato de ser mulher, de poder dar à luz, de amamentar, de sorrir sorrisos de marfim, de ser leal, dinâmica, forte, segura, a tornam bela. Há mulheres que parecem ter sido esculpidas à mão por um gênio, mas destilam veneno e de nada vale a face de pétala. Há mulheres rústicas na forma, porém, sublimes no trato. Estas, cativam pela voz e cavam a beleza represada na alma, afugentando a feiúra, porque sabem que não existe, não passa de uma timidez latente que teima em permanecer.
A beleza está nos corpos levemente roliços, nos cabelos de florestas, nas faces operárias, nas faces lavradoras, onde o suor hidrata e as rugas enfileiram-se, sulcos formados por arados, preparando as plantações vindouras, por máquinas, preparando a produção seguinte. A beleza está no corpo natural, sem implantes, cortes, toques e retoques. A beleza está na pele de riacho cristalino, na música de um violino, nas mãos tenras de emoção. A beleza existe. A beleza é a feiúra que teve coragem de aparecer e mostrar-se, de sair do caixote e lutar contra gigantes, como Dom Quixote. A beleza é a coragem, enquanto a feiúra é a fuga.
Dizer que uma pessoa é bela é dizer que é especial, única. Dizer que uma pessoa é bela é assumir a própria beleza, é despojar-se da hipocrisia, da vaidade, do sofrimento. Dizer que uma pessoa é bela é ser o espelho pelo qual ela verá seu reflexo. Dizer que uma pessoa é bela é alimentá-la com o alimento da alma, é fazê-la sorrir numa chuva de nuvens, é fazê-la flutuar pelos ares, é enchê-la de satisfação, é ler aquilo que está em seu coração, entalhado em ouro. Dizer que uma pessoa é bela, é dizer que não é tímida, que venceu a si mesma, que retirou o casaco da feiúra e o lançou num precipício, que libertou-se do vício da autopiedade, que aceitou a idade. Dizer que uma pessoa é bela é dizer que existe, que é uma obra-prima que existe para ser feliz. Dizer que uma pessoa é bela é dizer que a ama.
(Arte: "Galarina", de Pablo Picasso)
(Elson Teixeira Cardoso)