Quem não conhece Diana Menasché, deve rapidamente conhecê-la, acessando seu interessante blog (www.dianamenasche.blogspot.com), que tem o sugestivo título de LIVROVOADOR - O LIVRO É INSTRUMENTO DE SOPRO. Onde encontrar algo mais moderno, lírico e conciso ao mesmo tempo? Há poucos textos publicados, pois o blog é recente. Entretanto, é possível encontrar preciosidades como o miniconto "O Livro Voador", uma espécie de texto híbrido - poema em prosa - onde a utilização de paralelismos (repetições) denuncia o estilo dialético, debatedor, da autora:
Cada linha é um verso formado pela repetição do "quando", que condensa uma explicação própria, até desaguar na explicação final. O paralelismo remete às águas correntes de um rio. Vê-se, claramente o cotidiano ser transformado em sonho. É o cotidiano literarizado. Isto é visível, também, ou principalmente, no miniconto "Dez Farpas Encravadas", sobre a hipocrisia, publicado neste blog, na SÉRIE MINICONTOS TEMÁTICOS, em 30/05/2007. Título forte que condensa o texto cortante, penetrante. Belo.
"Vai o pó pelos caminhos dos corredores, vão os pedaços de madeira pelos ralos da cozinha, vão as fitas de vídeo para o elevador social, os tecidos velhos para os fundos dos fundos da casa, a louça antiga para o congelador. (...) "(...) Vão os livros para o brechó, os cadernos para a casa da Maria. (...) "(...) Eu quero saber onde está o meu destino, o meu pedaço nesse mundo, o meu consolo de solidão."
No conto, o ato de limpar, arrumar, guardar, procurar, remexer, ganha dimensão reflexiva, rasgo psicanalítico. A necessidade de uma faxina material é a mesma necessidade de uma faxina emocional, rememorar o passdo e expurgar o que não é mais útil. Encontro do destino, inventário que há por vir. Encontro do espaço geográfico da vida, presença marcante. Encontro do que pode suplantar a solidão. O conto em si, é um monólogo. A prosa flui, marcante, cortante, dilacerante, em cenas seqüenciais. A prosa de Diana Menasché dialoga com a dramaturgia. Não é preciso ler vários contos para perceber isso. As cenas estão prontas, à espera da interpretação.
(Elson Teixeira Cardoso)
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