Todos os convidados da vernissage haviam ido embora, mas ele continuava na sala principal da galeria de arte, estático diante de um quadro, os olhos fixos, esperando algo acontecer. Alguém aproximou-se e gentilmente disse que iriam fechar, ele pediu mais alguns minutos, precisava esperar. O tempo lhe foi concedido, mas as luzes das outras salas foram apagadas.
Houve um relâmpago azul e a mulher saltou do quadro, pele de marfim, brilhante, surrealista, vestida com os cabelos dourados que desciam como água sobre seu corpo. Abraçaram-se e saltaram pela janela, dez andares, mas flutuaram na noite enluarada, revestidos pelo amor, amando-se num amor infinito. Pousaram numa ponte com os corpos entrelaçados, em brasa, iluminados pela aurora que despontava adiante, dando-lhes boas-vindas.
Na galeria de arte, estranharam que no lugar do quadro houvesse apenas uma silhueta da mulher e uma inscrição, talvez um trecho de poema: "e no azul do horizonte,/ o reflexo da lua numa poça,/ acende sobre a ponte,/ corpos de louça/ transmutados, acalorados, encontrados..."
(Arte: "Le Bassin aux Nymphéas", de Monet)
(Elson Teixeira Cardoso)
Um comentário:
Mergulhos no azul da tela, vôos à lua, saltos pela janela, flutuações no espaço... Sim, deste modo sentem-se as almas amantes da arte, da vida, da poesia, em seus pensamentos alados, em seu estar no mundo, à busca do mais delicado, denso, suave, intenso e profundo...
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