(LIVRO DE CABECEIRA)
Sr. José é um homem de meia-idade, vive só, numa casa contígua ao prédio da Conservatória Geral do Registo Civil, onde trabalha. Pertence à categoria subalterna dos auxiliares de escrita, trabalhando da manhã à noite, sem parar, para que os oficiais trabalhem de vez em quando; os subchefes, raramente; e o conservador-geral, quase nunca. Nesta distribuição injusta, mede-se o valor de cada um pelo lugar da mesa; a do conservador-geral fica no centro, à frente de todos, acima do nível do chão, imponente, controladora. Sr. José, por falta de opção, distrai-se com o hábito de colecionar recortes sobre pessoas famosas, algo inocente, porém, movido pela curiosidade, lança-se numa empreitada para completar informações imprecisas, investigando, subvertendo regras e regulamentos da repartição. Um dia, manuseia a ficha de uma mulher, morta, e procura desenfreadamente saber como morrera, pois não havia informação. Isto leva-o a adentrar à repartição depois do expediente, falsificar uma credencial e falar em nome da Conservatória, como se estivesse em diligência profissional. Descobre que a mulher suicidara-se. Mergulha em fichas, documentos comprobatórios de vida e morte, e senta-se na cadeira do conservador-geral, sentindo-se o próprio. No auge da clandestinidade, deixa a mediocridade de simples cumpridor de ordens para alçar o posto de um deus, detentor do controle sobre os arquivos, as vidas. Sr. José sempre fora assíduo, mas a tarefa extra deixa-o extenuado; os sinais logo aparecem no trabalho. Inventa doenças e falta, pede para sair mais cedo, não para descansar, mas para ir à cata de informações. O conservador-geral desconfia que há algo errado com o funcionário antigo, exemplar. Sr. José sente-se observado em seu delito, se é que delito cometia. Ouve passos estranhos à noite, na Conservatória. Um dia, vê o conservador-geral dirigir-se à repartição, quando não haveria expediente. Estava para ser descoberto, deveria ser cauteloso. O momento fatídico chega quando o conservador-geral mostra-lhe que descobrira tudo. Sr. José estava enrascado, seria demitido. Mas o conservador-geral prefere agir de outra maneira; cúmplice, sugere que a ficha da mulher fosse simplesmente alterada, de morta para viva, já que a certidão de óbito fora perdida. E sai, deixando-lhe a chave da Conservatória. Sr. José sabe que o documento existe. Decidido, pega uma lanterna na gaveta do conservaodr-geral e, precavido, lança-se à escuridão da sala, com o fio de ariadne, tal Teseu no labirinto do Minotauro.
(Arte: "Jardim", de Satoru Mabe)
(Elson Teixeira Cardoso)
3 comentários:
Huumm esse resumo me ajudou muiiito acho que poderia ser mais completo, tipo pq ela se suicidou... etc..
Vlw pela ajuda
Atenção: o funcionário da Conservatória do Registo Civil fica intrigado com essa mulher da ficha, como que obcecado, procurando-a por esse motivo. Nesse momento não havia qualquer registo da morte dela. Durante a narrativa ele julga-a viva e por isso persegue o seu trilho. Ele só descobre depois que ela morrera entretanto. Só depois de ele ter começado a sua busca é que ela se suicidou, sem que o motivo seja revelado.
Espero ter ajudado.
Muito bom.
http://numadeletra.com/todos-os-nomes-de-jose-saramago-52624
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